Contributos para abordagens interseccionais na Casa Comum

Resumo

Este texto pretende abordar a relevância da interseccionalidade para a construção discursiva da «Casa Comum», de que fala o Papa Francisco. Este desiderato passa pelo desafio de construir teologias contextuais, nas quais se façam ouvir múltiplas vozes, nomeadamente, vozes de mulheres. Reconhece-se à partida a necessidade de adoção de uma atitude de escuta e de humildade perante as diversas formas de sofrimento, exclusão e invisibilização dos «descartáveis», de que fala o Papa. Chama-se a atenção para aquilo que parece uma ausência de conhecimento das teologias feministas, mesmo quando se fala das mulheres, e procura-se mencionar alguns pontos-chave dessas teologias, nascidas, na Igreja Católica, na senda do Concílio Vaticano II, exercendo-se igualmente uma crítica acerca de «pontos mortos» na Casa Comum, em particular da ausência de uma construção teológica em Portugal que aceite o desafio interseccional. Esta permite o cruzamento das temáticas teológicas com temáticas, realidades, situações que reclamam abordagens complexas, contextuais, críticas, nas quais a teologia começa por fazer uma análise de si própria. Acredita-se que este caminho interseccional poderá levar a Igreja a um discurso mais prudente num tempo e nos lugares em que tanto a religião como a própria problemática do «género» são apropriadas e manipuladas politicamente.