A esperança da esperança

Main Article Content

Ana Luísa Vilela

Resumo

Entre o poema "Esperança", escrito por Torga em 1944 (em Libertação) e o poema "Esperança", de 1986 (no Diário), decorrem quarenta e dois anos de poesia. Outros mais poemas com o mesmo título e, sobretudo, muitos mais com o mesmo tema pontuam o lirismo do autor. Em Torga (caracterizado, simultaneamente, como representante do "desespero humanista e "criatura de esperança") - o motivo da esperança é contraditório e problemático, mas dominante, perpassando por toda a obra do autor. A partir de cinco poemas, todos eles intitulados "Esperança", e de outras cinco dezenas de composições que, com outro título, desenvolvem e problematizam o mesmo veio temático ao longo do percurso literário de Miguel Torga – procurarei, neste trabalho, identificar algumas das extensões, intersecções e implicações de um motivo que me parece configurar, em Torga, um núcleo poético elementar. Por um lado, cumprirá assinalar as directas ligações do motivo da esperança ao imaginário da morte da morte, ao canto da vitória da vida, tecida na sucessividade natural de uma temporalidade cíclica, assente na continuidade da Natureza – na "permanente rendição da vida". Por outro lado, observar-se-á, associada a este, a valorização, intermitente mas constante, de um imaginário crístico, alimentado pelas figuras do mártir - o poeta, o revolucionário, o santo – de uma forma ou de outra sempre "ressuscitado", erecto na sua humildade, no seu esforço e no seu sacrifício. Finalmente, haverá que ter em conta a sóbria, mas permanente, erotização da vida, "esta bela prostituta" – ou a eterna Natureza, que renasce, insolente, em cada manhã de seiva e na fome incontida de viver.

Palavras-chave: Miguel Torga, Poesia, Esperança

Downloads

Não há dados estatísticos.