Para uma museologia da religião: análise da carta-circular “a função pastoral dos museus eclesiásticos” vinte anos depois

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Maria Isabel Roque

Resumo

A Igreja Católica assume uma longa tradição na salvaguarda do seu património cultural, histórico e artístico. Os tesouros eclesiásticos medievais, cumprindo as funções de depósito, inventariação, conservação e exposição, são os antecedentes históricos dos museus eclesiásticos e constituem uma referência obrigatória na proto-história da museologia. No entanto, apenas em finais do século XVIII, com a instituição dos museus e a conexa incorporação de bens eclesiásticos, se assinala a conversão do objeto sagrado ou religioso em objeto museológico. Desde então e, em particular, após o Concílio Vaticano II, a Igreja tem demonstrado uma crescente preocupação em garantir, aos objetos retirados do culto, um destino digno de sua condição litúrgica original. Nesse sentido, a Carta-Circular Função pastoral dos museus eclesiásticos, publicada em 2001, determinava que o museu eclesiástico fosse considerado como um recurso válido e adequado à preservação desses objetos, mantendo-os na proximidade do grupo cultural de origem e dando continuidade à sua função catequética original. Assim, o museu eclesiástico diferencia-se dos restantes por ser confessional, vinculando uma perspetiva espiritual e pastoral à função cultural dos museus, o que, garantindo o rigor da informação, se torna um fator positivo na recontextualização e inteligibilidade do objeto religioso. Além disso, ao referir a interação entre o museu eclesiástico e o território, no quadro referencial dos conceitos de museu integrado e difuso, a Carta propunha uma via de atuação que coincide com o desenvolvimento da museologia atual centrada no público e na experiência do visitante. Passadas duas décadas sobre a sua publicação, propõe-se uma análise crítica da Carta no quadro teórico dos estudos museológicos, a fim de confirmar o seu caráter atualizado, se não pioneiro, no que respeita à recuperação da função e do sentido original do objeto no discurso museológico, à ligação ao território e à cultura do lugar numa perspetiva global e diacrónica, e à interação com o público plural e heterogéneo.

Palavras-chave: Estudos de museu, Igreja Católica, Museologia da religião, Museus eclesiásticos, Património religioso

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