O que queremos do estado? As limitações das abordagens atuais

Main Article Content

José Colen
António Baião
Scott Nelson

Resumo

Os ensaios sociológicos de Max Weber há muito definiram o Estado moderno como necessariamente coercivo. Caracteriza-se pelo monopólio da protecção armada – e portanto da violência – dentro de um território ou um país. Hoje esta definição do Estado é largamente partilhada entre sociólogos e cientistas políticos. Mas o conceito de Max Weber, relacionado com um certo relativismo, foi vítima ou inspirado por uma epistemologia que o levou a convencer-se que os propósitos do Estado não podiam ser racionalmente examinados e que os ideais, a que chamou “valores”, estão fora do alcance da ciência, quer os dos canibais quer os dos liberais. Robert Nozick chegou por um caminho muito diferente a uma conclusão análoga: o Estado legítimo (mínimo) deve ser apenas um agência de protecção da vida e propriedade que tende a ser monopolista e servir de enquadramento a muitas utopias e “valores”; a neutralidade ou indiferença do Estado é a melhor garantia do florescimento de diferentes formas de vida. Neste texto tentámos explorar os argumentos de ambos os autores e mostrar os pressupostos e narrativas em que baseiam as suas ideias. Um breve confronto com narrativas alternativas muito mais antigas da legitimidade da coerção, que remontam à antiga polis, recordou-nos que os clássicos acreditavam que o seu propósito era favorecer a excelência humana e não se limitava a constituir uma arena que oferecesse uma protecção política aos agentes do mercado. Não podemos regressar aos clássicos, nem endossar a sua visão. Mas não há razão para não examinarmos diferentes concepções do Estado moderno. De facto, o Estado raramente é neutro e cabe-nos decidir se os seus recursos devem ser canalizados para proteger o mercado ou proporcionar os meios para a busca da felicidade, ou uma mistura de ambos, ou de nenhum destes propósitos. Um obstáculo a uma análise mais profunda parece ser a presunção comummente aceite de que o pluralismo é incompatível com o “perfeccionismo”, i.e., que o descrédito ou o afastamento do Estado do favorecimento de toda e qualquer concepção da vida boa é a única, ou pelo menos a melhor, garantia do liberalismo. A melhor garantia do liberalismo, segundo alguns autores, não é a tolerância de diferentes modos de capturar a verdade ou o respeito das luzes nas mentes dos outros, mas a ausência de verdade ou de convicções tanto no domínio moral como político. Com efeito, se o Estado é essencialmente um poder protector, coercivo ou violento, talvez seja preferível que seja indiferente à educação, às artes, a investigação científica ou a todas as formas de vida boa. Queremos sugerir que tal presunção merece ser clarificada.

Palavras-chave: Estado, Weber, Nozick

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Beyme, Klaus von. "The Role of the State and the Growth of Government", International Political Science Review / Revue internationale de science politique, 1985, Vol. 6, No 1: 11-34.

Cabrita, Maria João. "O Liberalismo, a Justiça Social e o Papel do Estado: As Propostas de John Rawls e Robert Nozick", Tese de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2007.

Cohen, G. A. Self-Ownership, Freedom and Equality. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

Gaus, Gerald. "Explanation, justification, and emergence", In The Cambridge Companion to Nozick's Anarchy, State and Utopia, edited by Ralf M Bader and John Meadowcroft, 116-142. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.

Hailwood, Simon. Exploring Nozick: Beyond Anarchy, State and Utopia. Aldershot: Avebury, 1996.

Holmes, Robert L. "Nozick on Anarchism", Political Theory, 1977, Vol. 5, No 2: 247-256.

Kelsen, Hans. General Theory of Law and State. London: Transaction Publishers, 2007.

Lacey, A. R. Robert Nozick. Princeton: Princeton University Press, 2001.

Locke, John. (1988). Two Treatises of Government. Cambridge: Cambridge University Press.

Mack, Eric. "Arguments for the more-than-minimal state," In The Cambridge Companion to Nozick's Anarchy, State and Utopia, edited by Ralf M Bader and John Meadowcroft, 89-115. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.

Miller, David. "The Justification of Political Authority", In Robert Nozick, edited by David Schmidtz, 10-33. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

Nozick, Robert. Anarchy, State, and Utopia. Oxford: Basic Books, 1974.

Paul, Jeffrey. "The Withering of Nozick's Minimal State", In Reading Nozick: Essays on Anarchy, State, and Utopia, edited by Jeffrey Paul, 68-76. Oxford: Blackwell Publishers, 1982.

Rothbard, Murray. The Ethics of Liberty. New York: New York University Press, 1998.

Strauss, Leo. The City and Man. Chicago: University of Chicago Press, 1964.

Ullmann-Margalit, Edna. "Invisible-hand Explanations", Synthese, 1978, Vol. 2, No 39: 263- 291.

Weber, Max. "Politik als Beruf" In Gesammelte Politische Schriften, edited by Johannes Winckelmann. Tübingen: Mohr Siebeck, 1988.

Weber, Max. General Economic History, trans. Frank H. Knight, Mineola (NY): Dover Publications, 2003.

Williams, Bernard, "The Minimal State," In Reading Nozick: Essays on Anarchy, State, and Utopia, edited by Jeffrey Paul, 27-36. Oxford: Blackwell Publishers, 1982.

Winckelmann, 'foreword" Max Weber to Wirtschaft und Gesellschaft, (Tübingen: Mohr Siebeck, 1972), XXVIII-XXXI.

Wolff, Jonathan. Robert Nozick: Property, Justice, and the Minimal State. Stanford: Stanford University Press, 1991.

Wolff, Robert Paul, "Robert Nozick's Derivation of the Minimal State," Arizona Law Review, 1977, Vol. 19: 7-30.