As humanidades e as ciências - dois modos de ver o mundo

Main Article Content

Maria Laura Bettencourt Pires

Resumo

Este artigo foca o tema da separação e da dessintonia entre as teorias epistemológicas das Ciências e das Humanidades que, desde há séculos, dividem a sociedade e o mundo universitário. Refere também os desafios contemporâneos que as Humanidades enfrentam, concluindo que se encontram numa posição privilegiada para facultar um conhecimento consciente, e hoje em dia muito necessário, da história das ideias, da formação das identidades e da construção de um imaginário comum. Relata ainda que se têm dinamizado redes entre os investigadores, construído pontes com outras Ciências e quebrado barreiras disciplinares e que, para tal, têm contribuído as Humanidades Digitais, que estimulam o mútuo conhecimento e ajudam a atravessar fronteiras linguísticas e geográficas. Outro dos objectivos deste ensaio é analisar a "ruptura epistemológica" e a crise do paradigma da racionalidade científica e reavaliar a pertinência entre o saber e o poder. Pode concluir-se que as forças sociais e económicas influenciadas pelo conhecimento científico, contribuíram para instituir o primado da ciência e que, ao traçarem a trajectória do futuro, não consideraram possibilidades transformadoras, que não se identificavam com o conhecimento científico e que viriam a acabar com o chamado monopólio da ciência. Ao reflectirmos sobre o mundo actual e procurarmos soluções para os seus problemas, temos de passar de um paradigma mecânico, reducionista e linear para um que seja dinâmico, aberto e interdisciplinar. Entre os vários teóricos que reflectiram sobre o tema, são referidos Bertrand Russell, Theodor Adorno, C. P. Snow, E. O. Wilson, Dorian Sagan e Paul Feyerabend. Com o intento de promover as Humanidades e de demonstrar que a contemplação de grandes obras de arte do passado nos pode fazer reflectir sobre questões científicas e que, até ao século XVII, a arte e a ciência estavam "unidas", tendo muitos dos pintores conhecimentos em óptica, anatomia e ciências naturais, antes de terminar, evoca-se a grande figura de Francisco de Holanda.

Palavras-chave: Ciências, Humanidades, Ruptura epistemológica, Mudança paradigma

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Adorno, Theodor, Erziehung zur Mündigkeit. Vorträge und Gespräche mit Hellmuth Becker 1959-1969, Frankfurt am Main: Gerd Kadelbach, 1970.

Berger, John, Ways of Seeing, London: Penguin Classics, 2008, [11990]. Feyerabend, Paul, The Tyranny of Science, London: Polity, 2011.

Heidegger, Martin, "The Age of the World Picture" in The Question Concerning Technology and Other Essays, Harper Torchbooks, 1977, pp. 115-154.

Holanda, Francisco de, De aetatibus mundi imagines (1573), Biblioteca Nacional de Espanha. Nussbaum, Martha, Cultivating Humanity – A Classical Defense of Reform in Liberal Education, Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1997.

Pessoa, Fernando, A Estrada do Esquecimento e Outros Contos, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015.

Pessoa, Fernando, Livro do Desassossego, Lisboa: Tinta da China, 2014.

Russell, Bertrand, On Education, London: Routledge, 2009 [1926].

Russell, Bertrand, Fact and Fiction, London: Routledge, 2009 [1961].

Sagan, Dorion, Cosmic Apprentice – Dispatches from the Edges of Science, Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.

Weber, Samuel, "The Future of the Humanities: Experimenting" in Culture Machine, Vol 2, 2000.

Weber, Samuel, "The Future Campus: Destiny in a Virtual World", Journal of Higher Education Policy and Management, Vol. 21, Issue 2, 1999, pp. 151-164. https://doi.org/10.1080/1360080990210203

Wilson, E. O., Consilience: The Unity of Knowledge, Vintage, 1998.