As abadessas cistercienses na Idade Média: identificação, caracterização e estudo de trajectórias individuais ou familiares
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Resumo
Este artigo parte da caracterização do cargo abacial e das funções que lhe estavam inerentes para depois evoluir em torno da seguinte questão: que critérios orientavam a escolha de uma abadessa cisterciense na Idade Média? A identificação de algumas preladas e a apresentação de determinadas trajectórias individuais ou familiares permitem concluir que o poder e o prestígio que o exercício daquele cargo podia proporcionar a essas religiosas e às suas famílias motivaram insistentes interferências das linhagens na vida comunitária, sendo aqui colocadas em destaque as pressões exercidas aquando de cada nova eleição. Ingerências que, por serem inaceitáveis aos olhos de parte da comunidade conventual, ou porque a dividiam em clãs rivais, acabavam por originar complicados e demorados processos de contestação. Da presente análise transparece a permeabilidade das comunidades monásticas ao exterior e o entretecer de relações de solidariedade, baseadas no parentesco alargado e na constituição de clientelas, cujo sucesso acaba por justificar a perpetuação do governo de uma abadia nas mãos de uma mesma família ao longo de várias gerações.