O mar no imaginário religioso egípcio: contextos, representações e perguntas
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Resumo
O antigo Egito é, indubitavelmente, uma das grandes civilizações fluviais do mundo. O Nilo, cuja inundação possibilitou o florescimento e manutenção da civilização egípcia, era concebido como um curso aquático mimético do Nun, o oceano primordial que teria servido de matéria e gérmen no momento genesíaco. Destarte, a sacralidade do elemento fluvial em solo egípcio acompanha o pulsar deste grupo humano desde o seu amanhecer. Não obstante, o Nilo não configura o único corpo aquático egípcio. As “Duas Terras” são banhadas por águas salgadas, mais concretamente, os mares Mediterrâneo e Vermelho. Embora um dos adjetivos com que habitualmente nos reportamos a esta geografia e cronologia seja precisamente “nilótico/a”, à luz das investigações mais recentes, parece inegável a existência de uma matriz marítima no devir egípcio. Este artigo pretende pensar o lugar do mar no edifício religioso egípcio, norteando a reflexão em torno de duas perguntas fundamentais: terão sido os mares objeto de uma leitura sacra por parte dos antigos egípcios? Existiria uma hierarquização subjectiva das superfícies aquáticas no “País das Duas Margens”?