Sacralidades fluidas: o mar e as fronteiras do conhecimento na ficção medieval
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Resumo
Não obstante a sua notável recorrência na literatura medieval, o mar é provavelmente um dos espaços mais complexos e difíceis de apreender, a sua natureza de espaço fluido tornando problemático o seu estatuto enquanto objeto de estudo. Daí que o espaço marítimo e o que nele acontece seja tantas vezes associado ao maravilhoso e ao milagre, na condição de entendermos estes termos como categorias cognitivas, ou seja, enquanto signos da irrupção de um elemento exógeno marcado pela alteridade que implica um rasgo, uma questionação, uma abertura ao desconhecido e uma reconfiguração da visão do mundo. Enquanto lugar de revelação, de conversão e de múltiplas outras transformações, derradeira fronteira situada nos limiares entre o sagrado e o profano, o mundo e o outro-mundo, o céu e a terra, o apelo da transcendência e o espectro da submersão nas profundidades abissais, espaço privilegiado de mediação entre o universo dos topoi e uma escrita marcada pela diferença, será o mar representado pela narrativa ficcional uma vasta metáfora do Conhecimento?