Da indeterminação do mundo: os santos, o mar, a luz
Main Article Content
Resumo
Nesta comunicação, sugiro que confrontemos os argumentários da precedência simbólica com os da precedência da razão utilitária nas relações das sociedades com o mar. Para tanto, o texto explora múltiplas camadas cronológicas e núcleos temáticos de diversos sectores disciplinares, tomando como ponto de partida o domínio da navegação fúnebre nos relatos da chegada, por via marítima, das relíquias dos santos fundadores (como S. Tiago e S. Vicente). Estes eventos multiplicaram-se em réplicas e variantes que se sucedem ao longo de séculos e com ressonância na religiosidade popular dos dias de hoje, frequentemente acompanhados por interesses políticos associados à sacralização do oceano, com os seus recursos, ‘bons para comer, bons para pensar’. Tomando a indeterminação, o aleatório, como dado epistemológico fundamental – não só dos modos de vida e das crenças associadas às interfaces ribeirinhas e oceânicas, como da própria condição humana – enfatizar-se-ão aspetos escópicos e processos cognitivos, identificando-se alguns elementos centrais que se reportam à experiência vivida da luz e da atmosfera, das continuidades entre os elementos aquático e celeste. Esta proposta explora perspetivas teóricas recentes e inovadoras, na Antropologia e para além dela, procurando, segundo os princípios da teoria autopoiética, uma equação alternativa aos determinismos dos argumentários apresentados.