Análise fenomenológica de um caso de «cegueira psíquica»

Main Article Content

Carlos Morujão

Resumo

Fará sentido falar ainda de consciência? Não poderá a linguagem com que descrevemos os nossos atos ser substituída, com vantagem, pela linguagem que é própria das neurociências? Não deveremos hoje falar apenas de cérebro e de mecanismos neurais? Contra as teses eliminacionistas, mas também contra as que definem os estados conscientes como um conjunto de qualidades subjetivas e quase inapreensíveis, o presente ensaio defende a validade das três hipóteses seguintes: 1) a necessidade de falar de consciência para dar conta das experiências vividas de nós mesmos, dos outros e do mundo; 2) a intencionalidade como característica irredutível da consciência, impossível de explicar numa linguagem fisicalista ou na base de modelos computacionais; 3) a relação indissolúvel da consciência com o corpo e com os esquemas corporais de orientação no mundo. Acima de tudo (apoiado nas análises de Merleau-Ponty e, em parte, de Edmund Husserl), o presente ensaio pretende demonstrar que as tentativas de reduzir os fenómenos mentais a estados cerebrais enfermam de um vício inultrapassável: elas recorrem, para explicar tais fenómenos, a uma linguagem fisicalista inapropriada para compreender a sua especificidade, cavando um fosso entre elas próprias, por um lado, e, por outro, a experiência vivida desses fenómenos e a linguagem em que ela se exprime.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BENETT, M. e HACKER, PETER M. S. 20122. Die Philosophischen Grundlagen der Neurowissenschaften, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.

CARNAP, R. 1990. «Excerpt from “Psychology in Physical Language”», in William G. Lycan (ed.), Mind and Cognition, London: Basil Blackwell, pp. 22-28.

CHANGEUX, J.-P. e RICOEUR, P. 1998. O que nos faz Pensar?, trad. de Isabel Saint-Aubyn, Lisboa: Edições 70.

CHURCHLAND, P. S. e SEJNOWSKI, TERRENCE J., «Neural representation and neural computation», in William G. Lycan (ed.), Mind and Cognition, London: Basil Blackwell, pp. 224-252.

DAMÁSIO, A. 2010. O Livro da Consciência, Lisboa: Círculo de Leitores / Temas e Debates.

HUSSERL, E. 1966. Analysen zur passiven Synthesis, Husserliana Band XI, Den Haag: Martinus Nijhoff.

HUSSERL, E. 1975. Logische Untersuchungen, Erster Band, Prolegomena zur reinen Logik, Husserliana Band XVIII, Den Haag: Martinus Nijhoff.

LENK, H. 2001. Kleine Philosophie des Gehirns, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.

MARCELLE, D. J. 2010. «Aron Gurwitsch’s incipient phenomenological reduction», in Studia Phaenomenologica, X, 119-134.

MERLEAU-PONTY, M. 1945. Phénoménologie de la Perception, Paris: Gallimard.

PUTNAM, H. «The nature of mental states», in William G. Lycan (ed.), Mind and Cognition, London: Basil Blackwell, pp. 47-56.

SIDONCHA, U. M. 2011. Do Empírico ao Transcendental. A Consciência e o Problema Mente / Corpo entre o Materialismo Reducionista e a Fenomenologia de Husserl, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian / Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

TEICHERT, D. 2006. Einführung in die Philosophie des Geistes, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.