Narrativa e empatia. Lições do cérebro e da literatura

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Ana Margarida Abrantes

Resumo

A investigação recente revela uma correlação positiva entre o hábito de ler narrativas literárias e o desenvolvimento da teoria da mente, cognitiva e afetiva, esta última relacionada com a empatia (Kidd & Castano, 2013; Mar, Oatley, Hirsh, dela Paz, & Peterson, 2006). Para explicar esta correlação, é necessário considerar o conceito de empatia na relação entre mente, corpo e cérebro. Na perspetiva neurobiológica das teorias da simulação, as mesmas estruturas são ativadas na experiência direta de emoções e ainda quando as emoções são detetadas no Outro (Gallese, 2001; Damásio 1999). Do ponto de vista cultural, a empatia é entendida numa constelação triádica de dois agentes em interação e de um observador que toma o partido de um desses agentes (Breithaupt, 2009). A dimensão narrativa da empatia é um elemento estruturante da representação dessa interação e da tomada de partido espontânea do observador. Na narrativa literária, a empatia é direcionada a instâncias subjetivas particulares da história. A voz que conta a história pode influenciar a tomada de partido por uma ou outra personagem. Quando a atenção do leitor se dirige para esta voz, revela-se uma outra forma de empatia: a perceção de uma instância subjetiva conceptual, que convida o leitor a partilhar um ponto de vista sobre uma realidade. Esta é uma forma de intersubjetividade possibilitada pelos sistemas simbólicos da cultura. A consciência desta experiência de atenção partilhada, que na literatura é constitutiva e esteticamente intensa, é porventura uma explicação para a correlação positiva entre a teoria da mente e a literatura.

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