Lifau, berço da nacionalidade leste timorense

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Joana Ruas

Resumo

Lifau foi a cidade onde as religiões, as culturas e as línguas se cruzaram e entrechocaram caoticamente. Foi um estranho abraço entre uma entidade oriental diversificada e outra, ocidental, arrogante dos seus valores e das suas armas. Foi um abraço de desejo e de medo, o áspero combate de conviver e o desespero de ter de se alienar para sobreviver. Na Europa, com a ruína da verdade absoluta, a exigência moral de cada homem foi posta à prova nos tumultos do mundo, no choque das paixões e no desconhecido que cada um traz em si mesmo. A moral que haviam escolhido para dar uma forma ao informe da vida, enredava-se não raro nas intrigas dos poderosos e na tremenda ânsia de lucros fáceis. Como tinha surgido na Europa, a noção de nação surgiu em Timor à medida que o critério religioso foi sendo substituído por um critério social. Uma política espiritual aliada à perseverança com que Portugal defendia os povos à sua guarda de agressores externos, supriu as bases de uma fé sem teologia dos neófitos. As gerações que se lhes seguiram puderam usufruir do benefício da sua firmeza e admirar estes homens dos tempos passados cuja força, determinação e coragem moldaram as fronteiras étnicas e religiosas de uma parte do território e o perfil de uma nova nação. Os povos de Timor-Leste tiveram que viver, sem que disso tivessem consciência, a trajetória da modernidade entendida como a tradição da rutura e a aceitação de viver um tempo inédito.

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Referências

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