Neon Metin, um periódico clandestino em língua portuguesa editado pela Renetil (1989-1996). Contributos para a história do pré-jornalismo independentista em Timor-Leste

Main Article Content

Adelino Gomes

Resumo

A Renetil (Resistência Nacional dos Estudantes Timorenses) concebeu, produziu, editou e distribuiu clandestinamente, durante oito anos, um boletim informativo em língua portuguesa intitulado Neon Metin. O II Encontro de Jornalistas de Língua Portuguesa (Brasília, 1989) chegou a debater, por sua causa, a admissão de Timor-Leste como oitavo membro. Cruzando metodologias quantitativas e qualitativas (inquéritos por questionário, entrevistas pessoais e em grupo e análise documental), reconstitui-se o modo de produção, analisam-se características editoriais do periódico e identificam-se, pela primeira vez, elementos do respectivo “Corpo Redactório”, vários dos quais ocupam hoje lugares de proeminência no Governo, na Assembleia Nacional, no aparelho de Estado, ONG e empresariado. Numa leitura crítica dos exemplares preservados em fontes e arquivos da Resistência e da solidariedade internacional, e recorrendo a critérios e categorias classificativas consagradas na historiografia jornalística portuguesa, surpreendem-se em Neon Metin dispositivos técnicos, critérios editoriais, procedimentos, práticas e constrangimentos que, salvaguardadas circunstâncias e especificidades históricas, tecnológicas e culturais, ecoam: por um lado, a índole jornalística das Gazetas e relações de notícias do periodismo português da Restauração da Independência, das invasões napoleónicas e da guerra civil de 1846-1847 (Tengarrinha, 2013; Sousa, 2008); e, por outro, as “armas de papel” com que jovens portugueses, colaboradores de publicações periódicas clandestinas e do exílio, combateram, entre 1963 e 1974, a ditadura de Salazar e Caetano (Pereira, 2013). Quinhentos anos depois da chegada a Lifau, a língua que o colonizador impôs no comércio, na guerra e na religião, servia ao colonizado de “bala maubere” no combate a nova colonização.

Palavras-chave: Periodismo, Clandestinidade, Língua portuguesa, Estudantes timorenses na Indonésia, Neon Metin

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ANDERSON, Bennedict (2000). O tempo está do nosso lado. O colapso do colonialismo indonésio em Timor-Leste”. Política Internacional, Vol. 3, nº 21, pp. 11-12.

BAPTISTA, Jacinto e António Valdemar (1990). Repórteres e Reportagens de Primeira Página I (1901-1910), Lisboa, Conselho de Imprensa, p. 6.

CARDOSO, Gustavo e Adelino Gomes (2012). “Para uma carta de princípios do jornalismo na era da Internet”. http://estadodasnoticias.info/home/relatorios/principios-do-jornalismo/

DOMINGO, David & Florence Le Cam (2015). “Journalism beyond the boundaries: The collective construction of news narratives”, Carlson & Seth C. Lewis (edited) Boundaries of Journalism. London and New York, Routledge, pp. 137-151.

JOLLIFFE, Jill (1989). Timor, terra sangrenta. Lisboa, Edições “O Jornal”.

KOVACK, Bill e Tom Rosenstiel (2014 [2001]). The Elements of Journalism. What Newspeople Should Know and the Public Should Expect. New York, Three Rivers Press.

MAYERS, Steve, (2014). Why the man who tweeted Osama bin Laden raid is a citizen journalist, Poynter, http://www.poynter.org/news/mediawire/131135/why-the--man-who-tweeted-bin-laden-raid-is-a-citizen-journalist/#comment-197757994

PEREIRA, José Pacheco (2013). As Armas de Papel-Publicações periódicas clandestinas e do exílio ligadas a movimentos radicais de esquerda cultural e política (1963-1974), Lisboa, Temas e Debates-Círculo de Leitores.

ROSEN, Jay (2006). The People Formerly Known as the Audience. PressThink http://archive.pressthink.org/2006/06/27/ppl_frmr.html

RYFE, David M. (2012). Can Journalism Survive? An inside view of the American Journalism. NY, Polity.

SAKY, Carlos da Silva L. F. R. (2013). RENETIL iha Luta Libertasaun Timor Lorosa’e-Antes Sem Título Do Que Sem Pátria!. RENETIL

SOUSA, João Pedro (2008). “Uma História Breve do Jornalismo no Ocidente” e “Uma História do Jornalismo em Portugal até ao 25 de Abril de 1974, in José Marques de Melo et al.” Jornalismo – História, Teoria e Metodologia. Perspectivas luso-brasileiras. Porto, Edições Universidade Fernando Pessoa, pp. 12 – 35; 72-3; 87-90; 93-102.

STEARNES, Josh (2013. “Acts of Journalism. Defining Press Fredom in the Digital Age”. Free Press. Disponível em http://www.freepress.net/sites/default/files/resources/Acts_of_Journalism_October_2013.pdf

TENGARRINHA, José (2013). Nova História da Imprensa Portuguesa. Das Origens a 1865. Lisboa, Temas e Debates-Círculo de Leitores.

VICENTE, Paulino (2011) “A Imprensa Católica Seara e a Tradição Timorense: 1949-1970”, XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais, Salvador, disponível em http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1307067599_ARQUIVO_AimprensacatolicaSearaeatradicaotimorense1949-1970.pdf