“Quando ninguém se entende”: conflitos bioéticos num caso real de fim de vida

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Ricardo Lucas de Souza Rodrigues
http://orcid.org/0000-0002-8326-3572
Marta Alexandra de Almeida Magnos
https://orcid.org/0000-0001-9123-6630
Sofia Marques Inglês Gomes Covas
https://orcid.org/0000-0001-6168-693X
Valéria Guedes Ferreira da Silva Castro
https://orcid.org/0000-0003-3125-1606
Valquiria Cardoso Alves Chagas
https://orcid.org/0000-0002-8337-6462

Resumo

Introdução: A evolução técnico-científica das últimas décadas traduz-se no alargamento da expectativa de vida, na diminuição da taxa de mortalidade por doenças infectocontagiosas e no aumento da mortalidade devido às doenças crônico-degenerativas. Soma-se a isso a formação da educação médica, dotada cada vez mais de um modelo orientado para o uso de tecnologias altamente sofisticadas, parecendo negligenciar o tradicional campo da relação médico-utente. Quando o objetivo final é a cura, a morte passa a ser considerada um fracasso, um resultado inaceitável. Apesar de todo o esforço e tecnologia usada, a morte continua sendo um desfecho inevitável. A pessoa doente, quando em segundo plano, deixa de ser o protagonista da sua história. A bioética é um ramo do conhecimento que visa indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, tendo como fundamento o reconhecimento pela dignidade da Pessoa Humana. “o que devo fazer frente ao que posso fazer?” Os cuidados de fim de vida comumente envolvem questões éticas que levam os profissionais de saúde, pacientes e familiares a enfrentarem dilemas, conflitos. Objetivo: O presente trabalho propõe mostrar o quanto pode ser desafiador o processo de tomada de decisão para os envolvidos, nomeadamente os profissionais de saúde, familiares e utentes. Materiais e métodos: Diante de um caso real, os princípios éticos são apresentados e desenvolvidos respeitando a ótica da bioética. Resultados: A começar pelas concepções de dignidade, assim como suas possíveis fragilidades, perpassando aspectos mais técnicos como a adequação de esforço terapêutico e proporcionalidade de intervenções, contemplando os conceitos de obstinação e futilidade terapêutica, explorando a dimensão da autonomia (inclusive alguns de seus aspectos legais) e encerrando no campo da justiça e equidade, faz-se clara a complexidade que o processo de tomada de decisões ganha quando o aspecto humano e multifacetado da pessoa que sofre, o utente (e família), é posto em causa. Conclusão: As ponderações elencadas pelos princípios bioéticos auxiliam-nos a fundamentar o nosso agir profissional, de forma a considerar o mundo do utente, de seus familiares e/ou pessoas próximas e o nosso enquanto equipa assistencial. Como resultado, é suposto o abandono de certezas dogmáticas e simplistas, o abrandamento das incertezas inerentes ao processo e a eleição de uma melhor resposta possível: individualizada para aquele utente, por aquela equipa, naquele contexto. Aproximando-se do caso em questão, nas situações de fim de vida, a filosofia dos cuidados paliativos destaca-se como ferramenta de semelhante impacto.

Palavras-chave: Bioética, Cuidados paliativos, Cuidados de fim de vida, Futilidade médica

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