Condições de trabalho e stress ocupacional dos profissionais de saúde: comparação entre o primeiro confinamento e o período posterior

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Maria João Mendes
https://orcid.org/0000-0001-7068-8670
Filipa Sobral
https://orcid.org/0000-0002-8621-2738
Catarina Morais
https://orcid.org/0000-0002-9881-3514

Resumo

As condições de trabalho a que os profissionais de saúde estão expostos diariamente (i.e., sobrecarga horária e a disponibilidade de EPIs) sofreram alterações muito significativas com o surgimento da COVID19. Assim, e sabendo que mesmo antes da pandemia as condições de trabalho destes profissionais eram já reconhecidas como preditores de stress ocupacional, este estudo pretende compreender as diferenças entre as perceções dos respondentes no primeiro confinamento e no momento posterior (quando os dados foram recolhidos) no que se refere às condições de trabalho e aos níveis de stresse sentidos. Esta investigação contou com uma amostra de 114 profissionais de saúde, sendo que os dados foram recolhidos através de um questionário que foi disponibilizado online e em formato físico. Para a concretização das análises estatísticas recorreu-se ao IBM SPSS Statistics 23. De acordo com os resultados, e contrariamente ao previsto, a sobrecarga horária não se relaciona com o stress ocupacional dos profissionais de saúde presentes na amostra. Contudo, comprovou-se que a disponibilidade de EPIs mitiga o stress laboral destes profissionais e tal acontece tanto nos momentos mais críticos da pandemia, como após esse período de crise.

Palavras-chave: COVID19, Sobrecarga horária, Disponibilidade de EPIS, Stress ocupacional, Profissionais de saúde

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