As gerações, o rio e o oceano
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Resumo
Seguindo a sugestão de Jefferson, propomo-nos analisar a comparação entre nações e gerações no quadro de uma teoria filosófica de justiça e democracia, que se debruça sobre os nossos deveres para com os membros de outras gerações. Concentramo-nos em três das características comuns às relações intergeracionais, através de uma comparação com situações internacionais específicas. A primeira consiste na imobilidade temporal das pessoas além do período entre o seu nascimento e a sua morte. Esta imobilidade leva a que certos recursos específicos a certos períodos se tornem inacessíveis às gerações de outros períodos, o que pode ser relevante para certas teorias de justiça. Em seguida, apreciamos as características de enclave que cada geração possui. A transmissão intergeracional de bens depende pois da colaboração passiva e ativa das gerações de trânsito. Mostramos em que medida este aspeto é relevante para a definição das nossas obrigações de justiça intergeracional. Por fim, insistimos no carácter unidirecional da passagem do tempo – desta feita através de uma analogia com as nações ribeirinhas – e o seu efeito sobre a distribuição temporal dos custos e benefícios e das vulnerabilidades. Examinamos as suas implicações normativas possíveis para a definição de uma distribuição justa do poder entre gerações. Através das três ilustrações esperamos mostrar a pertinência desta abordagem anatómico-analógica para o entendimento daquilo que devemos às outras gerações e, em particular, às gerações futuras.
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Referências
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